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Santuário [Das Tartarugas e Dos Vira-latas]
Editora: URUTAU EDITORA
Avaliação:
R$ 50,00 á vista
Em até 4 de 12.50 s/juros
Fora de estoqueCódigo: 9786559003068
Categoria: Poesia
Descrição Saiba mais informações
Gosto de pensar que poemas são objetos de montar, coisas que podemos construir com as mãos: quebra-cabeças, tangrans, origamis. Vem do Oriente essa artesania milenar de transformar quadradinhos de papel em pássaros, flores, barcos. Ao ler o livro de estreia da poeta mineira Bia Mergener, me deparo novamente com essa metáfora que é uma espécie de afirmação do fazer poético: os poemas, assim como outros brinquedos, montam-se e desmontam-se a partir dos arranjos que criamos com nossas mãos, órgão motriz e matriz conectado à cabeça e ao coração por milhares de células e canais energéticos.
Cuidado, no entanto!
Ao contrário dos brinquedos projetados para crianças, Bia Mergener faz do risco um convite, nos propondo um flerte com a melancolia e sua potencialidade de ocupar o mundo a partir de uma sensibilização singular. O prazer (como essência do lúdico) mantém-se, entretanto, intacto. Bia fabrica seus objetos-de-papel polindo suas arestas para que sejam finas e cortantes, como o vidro e como o vento, como neste poema que se parece com uma fotografia em movimento: (sinto falta) da minha bicicleta azul/e dos cigarros blue camel que fumava/escondida — de quem? — no caminho de volta/pra casa, nos pontos de ônibus, nas ruas/escuras e úmidas de Copenhagen.
Ou como nesta outra imagem em que cor e texto confluem para um espaço poético inusitado e antagônico: Slow down, em neon na parede dos fundos/Slow down enquanto toma café (…) slow down, enquanto a vida lá/fora corre, a pressa comendo os segundos/faminta, o sol suando a testa dos passantes.
A inteligência poética da poeta encontra-se em saber que a melancolia, entretanto, é um estado transitório: uma lente. Os mesmos cacos de experiências e imagens afiadas que provocam feridas na pele fina dos dedos nos fazem querer voltar para a vida com mais curiosidade, tomar um sorvete de pistache, segurar a casquinha doce e gelada entre as mãos, imaginar (e escrever) outros mundos que possam se desdobrar no papel como os sabores ocultos se desdobram (e se revelam) na ponta da língua.
Flávia Péret
Páginas | 112 |
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Data de publicação | 10/10/2022 |
Formato | 14x19,5 |
Largura | 14 |
Comprimento | 19.5 |
Acabamento | Brochura |
Lombada | 1 |
Altura | 1 |
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