“Ela teria dito que se apaixonou desde quando cruzou seus olhos tímidos. Poderia dizer que nunca na vida tinha sentido um friozinho na barriga como naquele momento. Poderia dizer para ele que aceitava, sim. Para o que der e vier. Poderia, mas ela era Flavia. Segunda de dez filhos. Adolescente no meio da Segunda Guerra Mundial. O romantismo não caía bem neste momento histórico, assim como não combinava com sua personalidade. Toda sua energia era a serviço de seus sonhos. Sonhos de independência. Um marido ela queria, mas o objetivo final não era o casamento. O casamento era um meio para construir essa independência.” “Em sua ingenuidade, não sabia que a inadequação iria acompanhá-la por toda sua vida. Nem suspeitava que essa sensação de inadequação iria se tornar sua melhor amiga. Iria impulsioná-la ao movimento constante. Elena não conseguia perceber naquela época a mesma sensação de inadequação nos outros. Nos amigos, nos pais, nos professores. Elena queria muito se encaixar, por isso desafiava a inadequação. Para cada inadequação, uma transição. Mesmo que o desconhecido a assustasse, não era nada em comparação com o pavor que ela sentia de estar presa em algo onde ela não cabia mais.” Duas mulheres. Duas vidas moldadas pelo desenrolar da história e da política mundial ao longo do século XX e começo do século XXI. Duas mulheres que constroem sua história particular em busca dos próprios sonhos, seguindo caminhos que muitas vezes as põem em contraste com a sociedade onde elas se encontram. E o contraste se torna movimento, persistência, criatividade e esperança. Torna-se essência e também vida. Esta é, ao final, a história de duas vidas. Entre muitas. Poderia ser a minha. Ou a sua.