Havia sobre uma mesa folhas de papel em branco, tinta, uma pena. Ora, um dia, há sobre essas mesmas folhas o texto Discurso do método. Aconteceu, então, alguma coisa, um texto que significa uma filosofia nova: apresenta-se então uma história dos acontecimentos da filosofia. Isto, sem dúvida, numa época em que as histórias tradicionalmente dos acontecimentos tentavam sê-lo o menos possível; mas por que não enxergar uma reação ao mesmo tempo análoga e de sentido contrário no caso de uma história que tradicionalmente não era dos acontecimentos e que seria tentada a tornar-se uma? Nessas linhas publicadas em 1978, substituímos Discurso do método por alguns Pensamentos do Sr. Pascal sobre a religião e falamos em seguida uma história dos acontecimentos das ideias, pois o que acontece não é uma filosofia. O que acontece, de fato, é uma conversão que faz do convertido um conversor. Tal é o ponto de vista escolhido para olhar e tentar explicar o pensamento de Pascal, entendendo-se que ele não exclui outros pontos de vista.